Costumo viajar muito de ônibus. Nessas viagens, encontro muitas pessoas. Umas sentam do nosso lado e não dizem nada, seguem a viagem como se não houvesse ninguém. Outras sentem necessidade de conversar. É muito interessante escutar as histórias, mesmo as mais simples, como a do professor que costuma ir para o litoral visitar parentes, ou surpreendentes, como a de uma menina de 10 anos, com um histórico familiar de causar espanto, assim como sua maturidade.
Teve a senhora de Maceió, que veio para São Paulo e criou seus filhos sozinha. Ela me disse que a viagem para o nordeste de ônibus é muito bonita, mas que agora está muito perigosa, pois costumam assaltar de madrugada.
Teve a moça de Curitiba, que também já namorou à distância, assim como eu, mas não havia dado certo, que veio a trabalho e estava indo pegar um avião. Teve a outra moça, que também namorava à distância, e ficou feliz ao me ver chorar me despedindo do meu namorado, porque sempre chorava ao se despedir do namorado dela.
Um dos casos mais interessantes foi o artista de rua que não parava de falar. Ele parecia ter necessidade de contar histórias. Uma figura estranha, com muitas tatuagens estranhas, olhos pintados, esmalte preto saíndo das unhas, chapéu e roupas pretas, uma criatura andrógina. Aos 27 anos, idade que não aparentava (passava bem por 22), embora fosse um artista de rua, que se desgasta nas andanças, já havia viajado todo o Brasil e conhecido alguns países da Améria do Sul. Ele contava as histórias e não me dava chance de questionar, já vinha contando outras. O mais engraçado era que já havia lido uma infinidade de livros e disse que adorava Nietzsche. Quando disse que havia lido alguns livros e comecei a falar a respeito, ele logo mudou o foco da conversa, ou melhor, do monólogo. E as histórias eram mirabolantes! Não me convenceu, mas conseguiu me entreter até a chegada.
Voltando ao caso da menina, um fato curioso foi quando ela me falou sobre o encontro das águas no Amazonas, entre o Rio Negro e o Solimões. Eu tenho muita vontade de ir para lá, ver de perto esse fenômeno. Ela nunca poderia saber disso, pois havia me conhecido ai, naquele momento.
O ônibus é como a vida. Encontros e desencontros. Pessoas que nunca mais veremos, mas que, por um momento, marcam a nossa existência.
Acho muito estranha a hora da despedida. Costumo dizer "Até a próxima!", que nunca acontecerá. Todos sabem disso, e mesmo assim me respondem: "Até!".
Nenhum comentário:
Postar um comentário